O Bobo - Cap. 11: XI - O subterrãneo Pág. 108 / 191

A ideia que lhe ocorrera ao ouvir a conversação do conde e do alferes-mor fora a de fazer servir este caminho desconhecido ao ódio que o devorava. O infante dirigia-se a Guimarães, e na primeira noite ele lhe podia dar nas mãos aquele invencível castelo. Assim, apenas vira deserta a sala do banquete, saíra e viera fechar-se na sua pocilga, para cogitar no modo de executar seus intentos. Deitado no roto e imundo almadraque estava embebido em reflexões, quando ouviu falar o cavaleiro e o monge. Pôs-se a escutá-los, e do seu diálogo conheceu os receios que os agitavam, receios que ele sabia serem bem fundados. Deus ou o demónio lhe trouxera ali os instrumentos da vingança. Dando saída ao Lidador e aos seus cavaleiros, o esforçado senhor da Maia ficaria sabendo o meio de saltear este vasto e sólido castelo, que aliás parecia inconquistável.

Tal foi em substância a narração de Dom Bibas, que, fechando a porta, conduzira o monge e o rico-homem ao lado do aposento onde ele abrira entrada para o subterrâneo.

– Por aqui – dizia o bobo com um rir diabólico – é o caminho da salvação para vós, e para mim o de ver realizado o que será de ora avante o único pensamento da minha vida.

O Lidador ficou por algum tempo em silêncio, e por fim exclamou:

– Mas quem há de salvar os meus bons e leais cavaleiros, que me aguardam?





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