O Bobo - Cap. 13: XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais Pág. 130 / 191

O alferes-mor seguiu com os olhos o trovador. Tinha ficado imóvel enquanto durou aquela luta desonrosa para Fernando Peres e para os seus cavaleiros. No gesto do generoso Garcia pintavam-se ao mesmo tempo a vergonha, o ódio e a piedade. Ele quisera vingança; mas repugnava ao seu coração uma vingança atroz e covarde.

Apenas Egas saiu entre os homens de armas o conde voltou-se sucessivamente para Martim Eicha, para o vílico do castelo e para os cavaleiros que o rodeavam:

– Senhor capelão-mor, tende pronto um monge de S. Salvador para esta noite confessar um homem que antes do romper de alva deve ter legado seu cadáver às aves do céu. Senhor vílico, tende prontas três braças de boa corda de cânave de quatro ramais. Que seja sã e forte: não defraudeis por mesquinha essa parte da herança que hoje receberá o algoz do castelo. Bem sabeis que por costume lhe pertencem a corda da justiça e as roupas do justiçado! Senhores cavaleiros, breve nos veremos: agora se vos praz podeis retirar-vos.

Logo que se achou sozinho, o conde atirou-se a uma cadeira de espaldas apertando a fronte entre as mãos: as artérias pulsavam-lhe com violência e o coração, agitado por paixões más e por temores bem fundados, batia-lhe apressado. Havia na série dos sucessos daquele dia e do antecedente algumas circunstâncias ininteligíveis, algumas lacunas tenebrosas que não podia aclarar. Como escapara o Lidador com os seus vinte acostados e com Fr. Hilarião? Alguém favorecera esta fuga. Mas quem? Vinham-lhe à ideia os desejos que D. Teresa mostrara de reconciliação, e as diligências que fizera Garcia Bermudes para salvar os cavaleiros presos nessa noite, os quais ele no seu furor quisera meter a cutelo.





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