O Bobo - Cap. 14: XIV - Amor e vingança Pág. 150 / 191

– Não morrerás! – interrompeu Dulce. – Estás livre! O infante avizinha-se: cavaleiros, besteiros e peões cobrem os andaimos das barbacãs; e a rainha quer salvar-te. A porta oculta deste horrível cárcere está para ti aberta. As minhas lágrimas obtiveram dela a chave, que morrendo lhe entregou o conde D. Henrique. Só de mim ela fiara o segredo de que existia este caminho secreto. Fernando Peres o ignora. Ele já saiu para o burgo, e a rainha o seguirá em breve, porque o conde a arrasta consigo para testemunha do sangue que amanhã deve correr. No meio do tumulto poderás sair de Guimarães: o teu pajem também já livre te espera com um ginete... Parte... oh, parte, sem demora.

– Partiremos ambos – replicou o cavaleiro. – Não esquecerias um palafrém para ti, uma espada para mim. Eu e tu temos de cumprir nosso juramento.

– Egas – respondeu a donzela tristemente e redobrando-se-lhe a palidez –, o que exiges é impossível... impossível, porque o Sol que breve há-de romper alumiará um campo de batalha. Podes tu recordar-te de nossos juramentos quando diante de nós está um lago de sangue?

– E que importa? Além desse mar de sangue que dizes haverá paz para ti, e por entre inimigos e amigos eu te farei passar além dele. Então basta-me uma hora, e saldarei todas as minhas dívidas.





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