O Bobo - Cap. 15: XV - Conclusão Pág. 157 / 191

A sorte das armas e a vingança de Dom Bibas tinham resolvido os futuros destinos de Portugal. Não foi esta a primeira vez, nem será a última, em que uma batalha ou um caturra influam na existência ou não-existência, no modo de ser ou de não ser destes corpos morais chamados nações, que apesar da sua individualidade, em rigor ideal e abstracta não deixam de parecer corpos físicos, pela falta de vontade e de inteligência.

Brava batalha se pelejara no campo de S. Mamede, junto de Guimarães, onde a hoste do infante se travara com a de sua mãe e do conde de Trava. Depois de largo conflito, Afonso Henriques triunfara, e D. Teresa se vira obrigada a fugir com o soberbo estrangeiro, indo encerrar-se no Castelo de Lanhoso, distante duas léguas do lugar do recontro.

Mas porque não procuraram os vencidos amparar-se dentro dos fortes muros e torres do Castelo de Guimarães? É o que não nos diz a história. Pouco importa: di-lo-emos nós. A história não conheceu Dom Bibas, e Dom Bibas, muito em segredo o revelamos aqui aos leitores, nos oferece a chave deste mistério. O bobo tornara impossível semelhante arbítrio, e porventura ajudara a descer do céu a bênção que cobriu as armas de Afonso Henriques.

Este não se esquecera do modo por que e do caminho por onde o esforçado senhor da Maia escapara às garras do nobre tigre de Galiza. A lança de Gonçalo Mendes não reluzira enristada ao sol da peleja. Quando, porém, esta andava mais acesa e travada, vários besteiros, que se viam ao longe guarnecendo os adarves e eirados das muralhas e torres do temeroso castelo, começaram a vacilar e correr de um para outro lado, e daí a pouco alguns deles, tombando por entre as ameias, fizeram espadanar as águas encharcadas e verde-negras do fosso.





Os capítulos deste livro