O Bobo - Cap. 15: XV - Conclusão Pág. 160 / 191

Entretanto na hoste de D. Teresa se espalhara a notícia de que o inexpugnável alcácer de Guimarães sucumbira à traição e que os inimigos tinham aparecido subitamente no seu recinto como surgindo de sob a terra. Esta nova fizera esmorecer os corações mais robustos; mas quando os homens de armas, besteiros e peonagem deixados no castelo e no burgo começaram a acolher-se fugitivos e malferidos aos pendões da hoste, e narraram os acontecimentos que os obrigaram a abandonar o seu posto, o desalento se tornou geral, e a vitória, até aí indecisa, principiou visivelmente a inclinar- se para o lado do infante. Os balções variegados dos estrangeiros abatidos pela maior parte ante os ricos-homens portugueses; as alas vacilando e retraindo-se dos golpes furiosos dos seus adversários; os almogaures ou corredores, simulando voltearem para cometimento inesperado, mas realmente fugindo, davam já claros anúncios de próximo desbarato. Debalde o conde de Trava com a voz e com o exemplo tentava reanimar os brios dos seus cavaleiros; debalde se atirava como desesperado ao meio dos maiores perigos; a hora derradeira do seu domínio em Portugal tinha soado; e D. Teresa, que, observando o combate de um outeiro onde estava assentado o pavilhão real, tremera a princípio pela sorte do filho, conheceu enfim que negro para ela e para o conde devia ser este dia fatal. Terrível momento foi para a bela infanta aquele em que as lanças de Fernando Peres e de Afonso Henriques se enristaram frente a frente. Fechou involuntariamente os olhos horrorizada. Ao descerrá-los de novo, descortinou o vulto agigantado do moço príncipe que sobrelevava aos mais corpulentos cavaleiros já muito longe dali, abrindo sulcos por entre as mesnadas ou companhias dos nobres homens de Galiza. Os dois émulos do império tinham ferido em soslaio, e as ondas dos cavaleiros os haviam separado.





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