O Bobo - Cap. 15: XV - Conclusão Pág. 165 / 191

Subitamente do meio daquele turbilhão de homens armados, saiu rápido como a seta um vulto, galgando pela encosta e encaminhando a carreira do cavalo para o lado da tenda real: o vigia que velava à entrada chamou os demais guardas, que eram apenas alguns velhos cavaleiros pousados e um troço de besteiros do burgo.

O vulto era um homem de armas. Parou a certa distância da tenda e bradou aos vigias:

– Dizei à ilustre prestameira de Bravais, à nobre esposa do alferes-mor de Portugal, que seu marido e senhor lhe ordena se dirija ao Mosteiro de Guimarães, onde ao anoitecer o achará esperando. Sem réplica e sem tardança deve cumpri-lo, porque a lide perdeu-se e só desse modo se poderá salvar.

Ditas estas palavras o homem de armas desceu com a mesma rapidez o outeiro para o outro lado.

Dulce, que entre as demais damas de D. Teresa era a única tranquila, porque para ela já não havia na Terra temor nem esperança, ouviu o bradar do mensageiro. Pareceu-lhe conhecer a voz que bradava; mas logo reflectiu que era ilusão. Essa voz não podia chegar até àquele lugar, porque a abóbada de um cárcere a abafava, e porque semelhante mensagem repetida por tal boca seria monstruosidade impossível.

Entretanto, o cadáver de Garcia Bermudes fora colocado entre duas renques de brandões acesos no meio da nave principal do templo de S. Salvador. Além das grades, que segundo o antigo costume separavam a capela-mor do corpo da igreja, os frades salmeavam as orações da tarde. Subitamente um cavaleiro com as armas rotas e cobertas de pó entrou, e seguindo por uma das naves laterais foi encostar-se à última coluna junto ao cruzeiro. Apenas o divisou, Fr. Hilarião, descendo da sua cadeira onde presidia ao coro, fez sinal para que se abrissem as cancelas de ferro, e encaminhou-se para o recém-chegado.





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