O Bobo - Cap. 15: XV - Conclusão Pág. 166 / 191

Falaram a sós largo espaço. O que disseram nenhum monge pôde perceber; mas notaram que o abade ao retirar-se trazia os olhos arrasados de lágrimas. O cavaleiro conservava-se encostado à coluna sem movimento, semelhante ao cadáver que jazia no féretro colocado no meio do templo.

Passou uma hora. A noite tinha descido. A luz variegada das vidraças não se repintava já nas alvas lajens do pavimento. Fr. Hilarião, acabadas as orações, chamara para junto de si os monges, a quem ordenou o que quer que fosse. Alguns saíram mas não tardaram a voltar, os outros tornaram aos seus estalos ou sedes, onde assentados cabisbaixos e de braços cruzados pareciam, no volver de quando em quando a cabeça para o cruzeiro, esperar algum acontecimento extraordinário.

No âmbito da igreja silenciosa ouvia-se apenas o respirar constrangido e violento do recém-vindo, e às vezes o crepitar das tochas que ardiam ao redor da tumba.

Este silêncio, porém, quebrou-o um tropear lento de cavalos soando do lado da galilé ou alpendrada que rodeava exteriormente o edifício, e que segundo o costume da época servia de cemitério ao mosteiro. O ruído aproximava-se cada vez mais, até que finalmente parou junto das portas abertas ainda de par em par.

Uma dona com a cabeça coberta de um véu branco, seguida de um pajem que trajava as cores do alferes-mor Garcia Bermudes, entrou, e chegando ao meio da nave principal correu com os olhos aquelas arcarias: a igreja parecia deserta, e apenas o habitador do féretro que ela via perto de si esperava solitário o instante em que  o deitassem no seu leito de pedra. Uma lâmpada baça pendente sobre o altar-mor dava uma claridade moribunda, que se perdia no ambiente, e não deixava enxergar através dos cancelos os monges, vestidos de cogulas negras, que se conservavam assentados nos seus estalos em completa imobilidade.





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