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Capítulo 15: XV - Conclusão

Página 166

Falaram a sós largo espaço. O que disseram nenhum monge pôde perceber; mas notaram que o abade ao retirar-se trazia os olhos arrasados de lágrimas. O cavaleiro conservava-se encostado à coluna sem movimento, semelhante ao cadáver que jazia no féretro colocado no meio do templo.

Passou uma hora. A noite tinha descido. A luz variegada das vidraças não se repintava já nas alvas lajens do pavimento. Fr. Hilarião, acabadas as orações, chamara para junto de si os monges, a quem ordenou o que quer que fosse. Alguns saíram mas não tardaram a voltar, os outros tornaram aos seus estalos ou sedes, onde assentados cabisbaixos e de braços cruzados pareciam, no volver de quando em quando a cabeça para o cruzeiro, esperar algum acontecimento extraordinário.

No âmbito da igreja silenciosa ouvia-se apenas o respirar constrangido e violento do recém-vindo, e às vezes o crepitar das tochas que ardiam ao redor da tumba.

Este silêncio, porém, quebrou-o um tropear lento de cavalos soando do lado da galilé ou alpendrada que rodeava exteriormente o edifício, e que segundo o costume da época servia de cemitério ao mosteiro. O ruído aproximava-se cada vez mais, até que finalmente parou junto das portas abertas ainda de par em par.

Uma dona com a cabeça coberta de um véu branco, seguida de um pajem que trajava as cores do alferes-mor Garcia Bermudes, entrou, e chegando ao meio da nave principal correu com os olhos aquelas arcarias: a igreja parecia deserta, e apenas o habitador do féretro que ela via perto de si esperava solitário o instante em que  o deitassem no seu leito de pedra. Uma lâmpada baça pendente sobre o altar-mor dava uma claridade moribunda, que se perdia no ambiente, e não deixava enxergar através dos cancelos os monges, vestidos de cogulas negras, que se conservavam assentados nos seus estalos em completa imobilidade.

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pág. 166 (Capítulo 15)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 166

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173