O Garimpeiro - Cap. 2: II- A CAVALHADA Pág. 10 / 147

Era um arco circular de cento e vinte passos, mais ou menos, de diâmetro, em torno do qual os particulares iam construindo em desordem e sem simetria alguma seus palanques toldados e guarnecidos em roda de colchas de damasco, de seda e de chita de variadas e brilhantes cores.

Dois dias antes da festa, à tarde, fazia sua entrada na vila pela estrada do sertão uma família, que, entre outras muitas que iam chegando, atraiu particularmente a atenção do povo que vagava pelas ruas, e que se apinhava pelas portas e janelas. Era um homem idoso, tendo a seu lado uma jovem e gentil cavaleira, que cavalgava com suma graça um lindo ginete branco, uma menina de nove a dez anos, e alguns pajens e mucamas a cavalo.

- Que moça tão bonita é aquela? - perguntavam dali.

- É a Lúcia! Pois não conhecem a Lúcia? Ah! Cada vez mais bela!

- É a Lúcia! Aí vem a Lúcia! - sussurrava-se em outro grupo; e moços, velhos e meninos a correrem às janelas para verem aquela peregrina formosura, cuja fama há muito já se tinha espalhado por toda aquela redondeza.

- É um sol de formosura! - exclamavam simpaticamente os velhos. É o retrato de sua mãe, que eu conheci muito no meu tempo, mas retrato favorecido...

- É na verdade bonita – diziam as moças; mas, coitada, por viver sempre na roça, está com um ar tão acanhado.

- Ora, prima, se a senhora não fosse tão bonita, eu diria que isso é inveja.

Veja com que graça e desembaraço ela governa o cavalo... queria que ela estivesse a olhar sempre para todos os lados? Quando uma moça é bonita, airosa e bem feita, se cavalga um lindo ginete e sabe bem dirigi-lo, seus encantos ganham novo realce. Com o movimento as faces se incendem de cores mais vivas, os olhos despedem mais fulgor, e o porte como que se torna mais garboso e senhoril.





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