VII- O SACRIFÍCIO No outro dia Lúcia acordou, ou antes levantou-se, pois bem pouco dormira, cheia de sustos e de tristes pressentimentos; mas procurou ocultar do melhor modo que pôde suas inquietações, e premunir-se de força e resolução para afrontar os novos embates que a ameaçavam. Por um lado a atormentava a posição extrema em que se via colocada pelas instâncias do pai, posição de que não via outro meio de escapar-se, senão rendendo-se à discrição ou por meio de uma confissão, que, em vez de aplaca-lo, atrairia sobre ele a cólera de seu pai. Por outro lado a torturava a cruel incerteza em que se achava a respeito da sorte de Elias, do qual nem notícias tinha, posto que já tivesse findado o prazo de dois anos, dentro do qual prometera voltar ou dar notícias suas. Pensava na distância imensa que os separava, nos imensos perigos que o rodeavam por aqueles sertões infestados de assassinos e salteadores e infeccionados de epidemias mortíferas, e a esperança a abandonava, e sua alma se entregava a um desalento mortal.
Estava extremamente pálida e triste; liam-se no semblante os vestígios de uma noite velada no sofrimento, mas em sua fisionomia como que transluzia a altivez de uma resolução inabalável.
O Major, que espiava com impaciência o momento em que Lúcia despertasse, dirigiu-se a seu quarto, logo que a sentiu levantada.
- Minha filha... mas estás tão pálida e desfeita! !... estás sofrendo alguma coisa?
- Nada, meu pai... é um incómodo passageiro. Sempre que me deito tarde, passo mal.
- Ah! não admira; não estás acostumada a estas palestras e folguedos até alta noite.
- É verdade, meu pai; e quanta saudade não tenho da nossa boa vida da roça!... quando voltaremos para lá?
- Não sei dizer-te.