XII – MOEDEIRO FALSO Lúcia, abalada violentamente em todo o seu organismo pelo inesperado aparecimento de Elias e pela triste cena a que dera lugar na noite de sábado, caiu em uma prostração febril e profunda, que nos primeiros dias chegou a causar sérios cuidados a respeito de sua existência. Aquela alma forte, aquela feliz e vigorosa organização enfim sucumbiu à luta atroz que há tanto tempo trazia travada com os sentimentos do coração. Às vezes delirava, e então o nome de Elias lhe vagava sempre pelos lábios no meio do tropel de suas ideias confusas e incoerentes. Só então seu pai reconheceu que o amor de sua filha não era uma simples veleidade de criança, um capricho da imaginação, mas uma dessas paixões veementes e profundas, que com os obstáculos mais se exaltam, e que nunca mais se desalijam do coração onde uma vez entraram. Mas era tarde; o mal já estava feito, e era irremediável.
Leonel, como era seu dever, foi visitar sua futura esposa com vivas mostras da maior angústia e consternação, mas dizendo dentro de si: - Oh! se ela sucumbiu já, que redenção para mim! Como noivo foi sem escrúpulo introduzido no quarto da enferma em ocasião em que esta parecia estar mais tranquila. Lúcia em um estado de marasmo mal se percebeu da visita que era apresentada, e respondeu à sua saudação e a suas perguntas com tal indiferença, que bem mostrava não saber ela com quem estava falando.
Por fim Leonel para despertar sua atenção tomou-lhe uma das mãos entre as suas, e debruçando-se sobre o rosto da enferma que se achava reclinada sobre o travesseiro, dirigiu-lhe em tom afetuoso estas palavras:
- D. Lúcia, olhe-me; não me conhece?... sou eu; é o Leonel... é o seu esposo...
- Meu esposo! meu esposo!... quem é? É Elias?
E levantando um pouco o rosto e abrindo os olhos, que até ali conservara quase fechados no torpor da febre, fitou- os em Leonel.