XVII – A GRINALDA E O TÚMULO Desde pela manhã Lúcia esperava com a mais ansiosa impaciência a vinda de seu amante. Achava-se cada vez mais enleada em cruéis apuros, e todos os dias seu pai a apertava vivamente para que se decidisse a aceitar por marido o negociante que havia solicitado sua mão.
Bem via ela que o horizonte de novo se anuviava e que outra vez o céu ia-lhe impor o cruel dever de imolar, desta vez irremissivelmente, o seu amor à felicidade de sua família. Mas desta vez sua alma, ou porque já estivesse cansada de tantos embates e prostrada pelo desalento, ou porque seu amor mais avivado pela presença de Elias e fortalecido pela esperança dominasse despoticamente em seu coração, já não sentia aquela coragem que a tinha sustentado a primeira vez em sua nobre dedicação.
- Mas, - refletia ela consigo, - eu então era só. Não tinha notícias de Elias, que andava por longes terras; não podia saber se ainda amava-me e nem mesmo se era vivo ou morto; podia dispor livremente de meu destino. Mas, agora que ele se acha perto de mim, que sei que vive e vive só para amar-me, e tanto direito tem adquirido ao meu amor, posso eu, sem consulta-lo, sem dizer-lhe uma palavra, sacrificar o meu futuro, que é também o dele, a um pesar eterno?... oh! não! certo que não!... eu atraiçoaria o amor que me consagra e a confiança que em mim tem, e mereceria bem que de novo me desprezasse e amaldiçoasse.
Tranquilizada um pouco por este subterfúgio que lhe sugeria a sua consciência de amante, Lúcia se escusava para com seu pai com algumas evasivas, procurando ganhar tempo até que tivesse ocasião de achar-se com Elias para de acordo com ele resolver o terrível dilema em que estava empenhado o futuro de ambos.
Mas o sol já descaía muito de meio- dia e Elias não se apresentava.