IX – ALÉM DA QUEDA, O COICE O dia amanhecera esplêndido.
Os vultos das grandes árvores isoladas, restos da floresta, que o machado tinha poupado, debuxavam-se em um céu puro e rico de fulgores, e balanceavam os topes verdes- negros, como velhos caciques sacudindo os cocares nas danças sagradas.
As brisas, que sopravam frescas, traziam mil perfumes de flores selváticas, e rumorejavam pela encosta, mesclando seu sussurro ao marulho das cachoeiras e à vozeria alegre dos garimpeiros, cujos almocafres e alavancas retiniam no cascalho das grupiaras. Toda a povoação despertava alegre e cheia de vida, como garça que à beira do lago se espaneja aos raios do sol, sacudindo das brancas asas as pérolas matutinas.
Quando Elias despertou, o sol já batia em cheio por ambas as margens do ribeirão. Abriu a janela, e deu com os olhos naquele magnífico e risonho espetáculo, que tão cruel e pungente contraste formava com o estado amargurado de seu coração. O golpe que recebera na véspera repercutia-se agora em sua alma, ainda mais rude e doloroso. Ali esteve por mais de uma hora pensativo, perplexo e mergulhado no mais profundo abatimento.
Não atinava com o que deveria fazer, e desejaria ali ficar para sempre mudo, imóvel, petrificado como uma estátua.
Por fim resolveu-se a procurar na agitação do corpo alguma diversão aos pensamentos que lhe escaldavam o cérebro. Pegou no chapéu, e saiu à toa e sem destino pelas ruas da povoação. Encontrou muitos amigos e conhecidos que o cumprimentavam, e da boca dos quais, sem que o perguntasse, ouvia a confirmação da fatal notícia do casamento de Lúcia.
Esse casamento andava de boca em boca, e era o acontecimento que então mais preocupava a imaginação do público. Elias andava como que atordoado; aquele movimento e burburinho da população como que lhe causava vertigens.