X – A AFRONTA Esse dia, em que Elias se via calcado pela pesada mão da fatalidade até o mais fundo da miséria e do infortúnio, era sábado de aleluia. É esse justamente o dia de mais festanças e folias nas povoações do interior. À tardinha as guitarras e violões ressoavam por toda a parte, as serenatas se ensaiavam, e uma alegre celeuma rumorejava por todos os cantos da nascente povoação.
Em casa do Major nesse dia também a reunião era mais numerosa e animada do que de ordinário, não só por ser o dia que era, como também por se darem ali como umas festas esponsais, em que se iam de uma vez para sempre confirmar as solenes e recíprocas promessas do casamento de Lúcia e Leonel, que tinha de ser celebrado no domingo seguinte, chamado de Pascoela. Nesse dia o Major dirigira convites expressos a grande parte das pessoas mais importantes do lugar. Ao toque de Ave-maria já ali se achava reunida uma escolhida sociedade, e na pequena sala do Major reinava entre luzes e harmonias a maior animação e contentamento.
Contentamento! ? oh! sim; ele se espelhava na fisionomia de todos, exceto na da infeliz Lúcia, que forcejava em vão para dar a seu semblante visos, se não de prazer, ao menos de sossego e serenidade. No propósito de disfarçar aos olhos dos outros, principalmente aos de seu pai e de seu noivo, a angústia que por dentro a pungia, vestira-se com todo o esmero, e até com certa garridice. Trazia vestido de alva e transparente garça, sobreposto a uma saia cor- de- rosa, segundo o costume encantador que estava em moda naquele tempo. O cinto era uma larga fita azul, cujas compridas pontas brincavam sobre as róseas ondulações da saia que a envolviam. Ao vê-la assim trajada poder-se- ia dizer com exatidão quase literal que era a aurora de um formoso dia surgindo entre nuvens de azul e rosas.