III- NA ROÇA Festas acabadas, músicos a pé.
Por vir muito a pêlo, cai-me agora do bico da pena este anexim popular.
Acabada a festa, tudo caiu na tristeza e monotonia, não direi ordinária, porém muito pior ainda, pois contrastava horrivelmente com a alegria e festivo alvoroço dos dias que acabavam de escoar-se, e dos quais somente restavam as saudades.
Elias, de garboso e brilhante cavaleiro que era, passou a não ser mais que mero peão, isto é, voltou à sua condição de moço pobre e sem posição.
O Major teve de demorar-se alguns dias ainda na vila. Elias durante esse tempo não deixou passar um dia sem ir à sua casa; era, porém, muito maior a frequência de seu rival, cuja importuna assiduidade já escandalizava os olhos do público. Lúcia raras vezes lhe aparecia, e só quando era chamada por seu pai. Outro tanto não praticava com Elias, a quem vinha sempre cumprimentar com ar modesto, mas com as faces incendiadas em certo rubor, que significava muito. Este procedimento enchia de despeito e feria dolorosamente o amor- próprio do negociante:
- Sempre é da roça! - dizia ele com seus botões para desabafar seu desgosto. - Estas matutas são assim mesmo; parece que têm medo dos homens de certa classe e de certa educação mais elevada, e só se ligam com os da sua ralé. Quando lhes aparece em casa alguma pessoa mais bem trajada e de maneiras mais polidas apenas animam-se a espiar por trás das portas... Mas esta moça... julguei que tivesse um bocadito mais de espírito... qual! É como as outras, ou pior. Lá se avenha ela com o palerma do seu cavaleiro andante. Lê com lê, crê com crê. Admira que o bobo do Major não perceba certas coisas e não veja que aquele lorpa lhe anda fazendo corte à filha. Queira Deus que dali não saia alguma alhada! Muito me hei-de divertir com isso.