O Garimpeiro - Cap. 2: II- A CAVALHADA Pág. 17 / 147

Lúcia, que não supunha Elias tão instruído e bem falante, o escutava com íntima satisfação e aplaudia, ora com um gesto, ora com um sorriso.

- Seja como quiser, meu caro senhor - disse o negociante. - Não sabia que era cavaleiro e tão entusiasta; agora que o sei, não me animo mais a contrariá-lo. Fique cada um com sua opinião que não vale a pena questionar sobre semelhante coisa.

E, dirigindo-se ao Major, mudou bruscamente de conversação.

No entanto, Elias teve ocasião de dirigir timidamente a Lúcia algumas palavras sem importância, só pelo prazer de falar com ela e de lhe ouvir a voz. Por fim sempre se animou a pedir permissão para oferecer-lhe a primeira argolinha que tirasse nas corridas do primeiro dia.

No dia 7 houve pela manhã a missa cantada, o Te-Deum e a parada de costume. Tudo era farda: no meio daquela multidão de uniformes, os homens vestidos à paisana formavam uma minoria imperceptível. As famílias que queriam ir à igreja eram conduzidas pelas crianças e escravas, pois os pais e os irmãos adultos por via de regra estavam debaixo de forma.

Assistindo-se aos festejos de gala nas vilas do interior, dir-se-ia que não há povo mais militarizado que o nosso. Entretanto, não há povo mais essencialmente pacífico, menos propenso à carreira das armas.

A lei lhe impõe o dever de envergar uma farda e entrar em forma em certos dias do ano, e eis em que consiste o militarismo a missão única da guarda nacional.

À tarde tiveram lugar as cavalhadas.

Às três horas, já os palanques toldados de colchas de cores brilhantes estavam atulhados de famílias. Por baixo e em torno deles formigava remoinhando uma multidão inquieta, esperando com impaciência o começo do espetáculo.

Por fim o estouro das girândolas e o repique dos sinos deram sinal da vinda dos cavaleiros.





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