Nunca, Teresa! Nunca, ó mundo que me condenas!
Se teu pai quisesse que eu me arrastasse a seus pés para te merecer, beijar-lhos-ia. Se tu me mandasses morrer para te não privar de ser feliz com outro homem, morreria, Teresa!
Mas tu eras sozinha e infeliz, e eu cuidei que o teu algoz não devia sobreviver-te. Eis-me aqui homicida e sem remorsos. A insânia do crime aturde a consciência; não a minha, que se não temia das escadas da forca, nos dias em que o meu despertar era sempre
o estrebuchamento da sufocação. Eu esperava a cada hora o chamamento para o oratório, e dizia comigo: falarei a Jesus Cristo.
Sem pavor premeditava nas setenta horas dessa agonia moral, e antevia consolações que o crime não ousa esperar sem injúria da justiça de Deus.
Mas chorava por ti, Teresa! O travor do meu cálix tinha sobre a sua amargura as mil amarguras das tuas lágrimas.
Gemias aos meus ouvidos, mártir! Ver-me-ias sacudido nas convulsões da morte, em teus delírios. A mesma morte tem o horror da suprema desgraça. Tarde morrerias. A minha imagem, em vez de te acenar com a sua palma de martírio, te seria um fantasma levantado das tábuas dum cadafalso.
Que morte a tua, ó minha santa amiga!» E prosseguiu até ao momento em que João da Cruz, com ordem do intendente-geral da polícia, entrou no quarto.
– Aqui! – exclamou Simão, abraçando-o. – E Mariana? Deixou-a sozinha?! Morta, talvez!
– Nem sozinha, nem morta, fidalgo! O diabo nem sempre está atrás da porta… Mariana voltou ao seu juízo.
– Fala a verdade, senhor João?
– Pudera mentir!… Aquilo foi coisa de bruxaria, enquanto a mim… Sangrias, sedenhos, água fria na cabeça, e exorcismos do missionário, não lhe digo nada, a rapariga está escorreita, e, assim que tiver um tudo-nada de forças, bota-se ao caminho.
– Bendito seja Deus! – exclamou Simão.