O Crime do Padre Amaro - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 371 / 478

- Tolice! fez Amaro. É dar graças ao Senhor de me ter inspirado esta ideia de salvação. Demais tens a D. Josefa, tens a Gertrudes, o pomar para passear... E eu vou-te lá ver todos os dias. Até hás-de gostar, verás.

- Enfim que lhe hei-de eu fazer? É aguentar. E com duas grossas lágrimas nas pálpebras, amaldiçoava intimamente aquela paixão que só amarguras lhe dava, e que agora, quando toda a Leiria ia para a Vieira, a forçava a ela a ir fechar-se na solidão da Ricoça, ouvindo tossir a velha e os cães uivar na quinta... - E a mamã, que diria a mamã?

- Que há-de dizer? A D. Josefa não pode ir para a quinta só, sem uma enfermeira de confiança! Não te dê cuidado. O padre-mestre está lá embaixo a trabalhá-la... E eu vou ter com ela, que já aqui estou só há bocado contido, e nestes últimos dias é necessário ter cautelinha...

Desceu. Justamente o cónego subia, e encontraram-se na escada.

- Então? perguntou Amaro ao ouvido do padre-mestre.

- Tudo arranjado. E por lá?

- Idem.

E no escuro da escada os dois padres apertaram-se silenciosamente a mão.

* * *

Daí a dias, depois duma cena de prantos, Amélia partiu com D. Josefa para a Ricoça num char-á-banc.

Tinham arranjado, com almofadas, um recanto cômodo para a convalescente. O cónego acompanhava-a, furioso com aquele incômodo. E a Gertrudes ia em cima na almofada, à sombra da montanha que faziam sobre o tope do carro os baús de couro, os cestos, as latas, as trouxas, os sacos de chita, o açafate onde miava o gato, e um fardo amarrado com cordas contendo os painéis dos santos mais queridos de D. Josefa.





Os capítulos deste livro