O Primo Basílio - Cap. 5: CAPÍTULO V Pág. 147 / 414

- E eu foi por D'Artagnan - exclamou ingenuamente Luísa.

Riram muito.

- Começamos cedo - observou Leopoldina. - Dá-me uma gotinha mais.

Bebeu, pousou o cálice - e encolhendo os ombros:

- Oh! Começamos cedo? Começam todas! Aos treze anos já a gente vai na sua quarta paixão. Todas são mulheres, todas sentem o mesmo! - E batendo o compasso com o pé, cantou, no tom do fado:

- O amor é uma doença Que costuma andar no ar; Só d'ir à janela às vezes S'apanha a febre d'amar!

- Estou hoje com uma telha! - E espreguiçando-se muito languidamente: - No fim de contas é o que há de melhor neste mundo; o resto é uma sensaboria! Não é verdade? Dize, tu! Não é verdade?

Luísa murmurou:

- Se é! - E acrescentou logo: - Creio eu!

Leopoldina ergueu-se, e escarnecendo-a:

- Crê ela! Pobre inocentinha! Vejam o anjinho!

Foi-se encostar à janela; ficou a olhar pelos vidros o descer do crepúsculo; de repente pôs-se a dizer devagar:

- Realmente vale bem a pena estar uma pobre de Cristo a privar-se, a passar uma vida de coruja, a mortificar-se, para vir um dia uma febre, um ar, uma soalheira e boas noites, vai-se para o alto de São João! Tó rola!

A sala agora estava um pouco escura.

- Pois não te parece? - perguntou ela.

Aquela conversa embaraçava Luísa; sentia-se corar, mas o crepúsculo, as palavras de Leopoldina davam-lhe como o enfraquecimento de uma tentação. Declarou todavia imoral semelhante idéia.

- Imoral, por quê?

Luísa falou vagamente nos deveres, na religião. Mas os deveres irritavam Lepoldina. Se havia uma coisa que a fizesse sair de si - dizia - era ouvir falar em deveres!...

- Deveres? Para com quem? Para um maroto como meu marido?

Calou-se,





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