O pior é que Juliana podia sentir o cheiro. E parecia tão mal!...
- É um convento, isto! - murmurou Leopoldina. - Não tens má prisão, minha filha!
Luísa não respondeu; tinha encostado a cabeça à mão: e com o olhar vago, como continuando alguma idéia.
- São tolices, no fim, andar, viajar! A única coisa neste mundo é a gente estar na sua casa, com o seu homem, um filho ou dois...
Leopoldina deu um salto na voltaire. Filhos! Credo, que nem falasse em semelhante coisa! Todos os dias dava graças a Deus em os não ter!
- Que horror! - exclamou com convicção. - O incômodo todo o tempo que se está!... As despesas! Os trabalhos, as doenças! Deus me livre! É uma prisão! E depois quando crescem, dão fé de tudo, palram, vão dizer... Uma mulher com filhos está inútil para tudo, está atada de pés e mãos! Não há prazer na vida. E estar ali a aturá-los... Credo! Eu? Que Deus não me castigue, mas se tivesse essa desgraça parece-me que ia ter com a velha da Travessa da Palha!
- Que velha? - perguntou Luísa.
Leopoldina explicou. Luísa achava uma infâmia. A outra encolheu os ombros, acrescentou:
- E depois, minha rica, é que uma mulher estraga-se; não há beleza de corpo que resista. Perde-se o melhor. Quando se é como a tua amiga, a D. Felicidade, enfim!... Mas quando se é direitinha e arranjadinha!... Nada, minha rica! Embaraços não faltam!
Por baixo, na rua, o realejo do bairro, no seu giro da tarde, veio tocar o final da Traviata; ia escurecendo; já as verduras dos quintais tinham uma igual cor parda; e as casas para além esbatiam-se na sombra.
A Traviata lembrou a Luísa a Dama das camélias; falaram do romance; recordaram episódios...
- Que paixão que eu tive por Armando em rapariga! - disse Leopoldina.