O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 163 / 414

- Então foi pra baixo pra o cano, minha senhora; não está! mais nada.

- Viu bem?

- Esquadrinhei tudo...

E Juliana continuava, desolada:

- Antes queria perder dez tostões! Uma assim! Eu, minha senhora, podia lá adivinhar...

- Bem, bem! - murmurou Luísa descendo.

Mas estava assustada; sentia mesmo uma suspeita indefinida... Lembrou-lhe o bilhete que escrevera na véspera a Basílio, e que metera, todo amarrotado, no bolso do vestido... Entrou no quarto, agitada.

D. Felicidade tirara o chapéu, acomodara-se na causeuse.

- Tu desculpas, hem? - fez Luísa.

- Anda, filha, anda! Que é?

- Perdi uma conta - respondeu.

Foi ao guarda-vestidos; achou logo o bilhete na algibeira... Aquilo serenou-a. A carta tinha ido para o lixo, decerto. Mas que imprudência!

- Bem, acabou-se! - disse sentando-se resignada.

E D. Felicidade imediatamente, baixando a voz muito confidencialmente:

- Ora, eu vinha-te falar numa coisa. Mas vê lá! Olha que é segredo.

Luísa ficou logo sobressaltada.

- Tu sabes - continuou D. Felicidade, devagar, com pausas - que a minha criada, a Josefa, está para casar com o galego... O homem é de ao pé de Tui, e diz que na terra dele há uma mulher que tem virtude para fazer casamentos que é uma coisa milagrosa... Diz que é o mais que há... Em deitando a sorte a um o homem entra-lhe uma tal paixão que se arranja logo o casamento e é a maior felicidade.

Luísa tranquilizada, sorriu.

- Escuta - acudiu D. Felicidade -, não te ponhas já com as tuas coisas...

No seu tom grave havia um respeito supersticioso.

- Diz que tem feito milagres. Homens que tinham desamparado raparigas, outros que não faziam caso delas, maridos que tinham amigas; enfim toda a sorte de ingratidão.





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