Aquela precipitação amorosa em arranjar o ninho - provando uma paixão impaciente, toda ocupada dela - produziu-lhe uma dilatação doce do orgulho; ao mesmo tempo que aquele Paraíso secreto, como num romance, lhe dava a esperança de felicidades excepcionais; e todas as suas inquietações, os sustos da carta perdida se dissiparam de repente sob uma sensação cálida, como flocos de névoa sob o sol que se levanta.
Voltou ao quarto, com o olhar risonho.
- Que te parece, hem? - perguntou logo D. Felicidade, a quem a sua idéia ocupava tiranicamente.
- O quê?
- Achas que mande o homem a Tui?
Luísa encolheu os ombros; veio-lhe um tédio de tais enredos de bruxaria, misturados a amores caturras. Na vaidade da sua intriga romântica, achava repugnante aquele sentimentalismo senil.
- Tolices! - disse com muito desdém.
- Oh, filha! Não me digas, não me digas! - acudiu desolada D. Felicidade.
- Bem, então manda, manda! - fez Luísa, já impaciente.
- Mas são sete moedas! - exclamou D. Felicidade, quase chorosa.
Luísa pôs-se a rir.
- Por um marido? Acho barato...
- E se a sorte falha?
- Então é caro!
D. Felicidade deu um grande "ai!" Estava muito infeliz, naquela hesitação entre os impulsos da concupiscência e as prudências da economia. Luísa teve pena dela, e, tirando um vestido do guarda-roupa:
- Deixa lá, filha! Não hão de ser necessárias bruxarias!...
D. Felicidade ergueu os olhos ao céu.
- Vais sair? - perguntou melancolicamente.
- Não.
D. Felicidade propôs-lhe então que viesse com ela à Encarnação. Visitavam a Silveira, coitada, que