O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 165 / 414

Batizei a casa com o nome de Paraíso; para mim, minha adorada, é com efeito o Paraíso. Eu espero-te lá desde o meio-dia; logo que te aviste, desço.

Aquela precipitação amorosa em arranjar o ninho - provando uma paixão impaciente, toda ocupada dela - produziu-lhe uma dilatação doce do orgulho; ao mesmo tempo que aquele Paraíso secreto, como num romance, lhe dava a esperança de felicidades excepcionais; e todas as suas inquietações, os sustos da carta perdida se dissiparam de repente sob uma sensação cálida, como flocos de névoa sob o sol que se levanta.

Voltou ao quarto, com o olhar risonho.

- Que te parece, hem? - perguntou logo D. Felicidade, a quem a sua idéia ocupava tiranicamente.

- O quê?

- Achas que mande o homem a Tui?

Luísa encolheu os ombros; veio-lhe um tédio de tais enredos de bruxaria, misturados a amores caturras. Na vaidade da sua intriga romântica, achava repugnante aquele sentimentalismo senil.

- Tolices! - disse com muito desdém.

- Oh, filha! Não me digas, não me digas! - acudiu desolada D. Felicidade.

- Bem, então manda, manda! - fez Luísa, já impaciente.

- Mas são sete moedas! - exclamou D. Felicidade, quase chorosa.

Luísa pôs-se a rir.

- Por um marido? Acho barato...

- E se a sorte falha?

- Então é caro!

D. Felicidade deu um grande "ai!" Estava muito infeliz, naquela hesitação entre os impulsos da concupiscência e as prudências da economia. Luísa teve pena dela, e, tirando um vestido do guarda-roupa:

- Deixa lá, filha! Não hão de ser necessárias bruxarias!...

D. Felicidade ergueu os olhos ao céu.

- Vais sair? - perguntou melancolicamente.

- Não.

D. Felicidade propôs-lhe então que viesse com ela à Encarnação. Visitavam a Silveira, coitada, que





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