O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 166 / 414

tinha um furúnculo! E viam a armação da igreja para a festa; estreava-se o frontal novo, um primor!

- E estou também com vontade de ir rezar uma estaçãozinha, para aliviar cá por dentro - ajuntou, suspirando.

Luísa aceitou. Apetecia-lhe ir ver altares alumiados, ouvir o ciciar de rezas no coro, como se os requintes devotos dissessem bem com as suas disposições sentimentais. Começou a vestir-se depressa.

- Como tu estás gorda, filha! - exclamou D. Felicidade admirada, vendo-lhe os ombros, o colo.

Luísa diante do espelho olhava-se, sorria com o seu sorriso quente, contente das suas linhas, acariciando devagarinho, voluptuosamente, a pele branca e fina.

- Redondinha - disse, namorando-se.

- Redondinha? Vais-te a fazer uma bola!

E acrescentou, tristemente:

- Também com a tua vida, um marido como o teu, regaladinha, sem filhos, sem cuidados...

- Vamos lá, minha rica - disse Luísa -, que as tristezas não te têm feito emagrecer.

- Pois sim, pois sim! Mas... - e parecia desolada, como curvada sob as suas próprias ruínas - cá por dentro é uma desgraça, estômago, fígado...

- Se a mulher de Tui faz o milagre, põe tudo isso como novo!

Felicidade sorriu, com uma dúvida desconsolada.

- Sabes que tenho um chapéu lindo? - exclamou de repente Luísa. - Não viste? Lindo!

Foi logo buscá-lo ao guarda-vestidos. Era de palha fina, guarnecido de miosótis.

- Que te parece?

- É um primor!

Luísa mirava-o dando pancadinhas com as pontas dos dedos nas florzinhas azuis.

- Dá frescura - fez D. Felicidade.

- Não é verdade?

Pô-lo com muito cuidado, toda séria. Ficava-lhe bem! Basílio se a visse havia gostar, pensou. Era bem possível que o encontrassem...

- Veio-lhe, sem motivo, uma felicidade exuberante; achava tão delicioso viver, sair, ir à Encarnação, pensar no seu amante!.





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