Sebastião achava caro; mas o Paula mostrou-lhe o preço escrito por trás, numa tirinha de papel; espanejou a tela com amor; indicou as belezas, falou na sua honestidade; deprimiu outros vendedores de móveis, que tinham a consciência nas palmilhas; jurou que o retrato pertencera ao Paço de Queluz, e ia atacar as questões públicas - quando Sebastião disse resumindo:
- Bem, pois mande-mo logo, fico com ele. E mande a conta.
- Leva uma rica obra!
Sebastião agora olhava em redor. Queria falar do pé torcido de D. Felicidade, e procurava uma transição. Examinou umas jarras da Índia, um tremó; e avistando uma poltrona de doente:
- Aquilo é que era bom para a D. Felicidade! - exclamou logo - aquela cadeira! Boa cadeira!
O Paula arregalou os olhos.
- Para a D. Felicidade Noronha - repetiu Sebastião. - Para estar deitada... Pois não sabia, homem? Partiu um pé; tem estado muito mal.
- A D. Felicidade, a amiga de cá? - e indicou com o polegar a casa do Engenheiro.
- Sim, homem! Quebrou um pé na Encarnação. Até lá ficou. A D. Luísa vai para lá fazer-lhe companhia todos os dias. Agora ia ela para lá...
- Ah! - fez o Paula lentamente. E depois de uma pausa: - Mas eu ainda a vi entrar para cá há de haver oito dias.
- Foi anteontem. - Tossiu e acrescentou, voltando o rosto, olhando muito umas gravuras: - De resto a D. Luísa já ia todos os dias à Encarnação, mas era para ver a Silveira, a D. Ana Silveira, que esteve mal.