O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 181 / 414

- Não, obrigado. Vinha dizer-lhe... Não sabe? A D. Felicidade...

- O quê?

- Torceu um pé. Está mal.

- Que me diz?

Sebastião deu os pormenores.

- Vou lá já.

- Deve ir. Eu não posso ir, não entram homens. Coitada! Diz que está mal. - Acompanhou-a até à esquina da rua, ofereceu-lhe mesmo a tipóia: - E muitos recados que tenho pena de a não ver!... Pobre senhora! E diz que está num frenesi!

Viu-a afastar para a Patriarcal, e, admirando a graça da sua figura, esfregava as mãos satisfeito.

Estavam justificadas, santificadas mesmo aquelas passeatas todos os dias! Ia ser a enfermeira da pobre D. Felicidade! Era necessário que todos soubessem: o Paula, a estanqueira, a Gertrudes, as Azevedos, todos, de modo que quando a vissem de manhã subir a rua, dissessem: "Lá vai fazer companhia à doente! Santa senhora".

O Paula estava à porta da loja - e Sebastião com uma idéia súbita, entrou. Estava-se estimando de se sentir tão fecundo em expedientes, tão hábil!

Deitou um pouco O chapéu para a nuca, e mostrando com o guarda-sol o painel que representava D. João VI:

- Quanto quer vossemecê por isto, ó Sr. Paula?

O Paula ficou surpreendido:

- O Sr. Sebastião está a brincar?

Sebastião exclamou:

- A brincar? - Falava muito sério! Queria uns quadros para a sala de entrada, em Almada; mas velhos, sem caixilho, para dizerem bem sobre um papel escuro. - Como isto! Estou a brincar! Ora essa, homem!

- Desculpe, Sr. Sebastião... Pois nesse caso há por aí alguns painéis a calhar.

- Este D. João VI agrada-me. Quanto custa isto?

O Paula disse, sem hesitar:

- Sete mil e duzentos. Mas é obra de mestre.

Era uma tela desbotada de tom defumado, onde uns restos de face avermelhada, com uma cabeleira em cachos, sobressaíam vagamente sobre um fundo sombrio.





Os capítulos deste livro