O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 186 / 414

Outras vezes, mais sério, dava-lhe certos conselhos de gosto, de toalete: pedira-lhe que não trouxesse postiços no cabelo, que não usasse botinas de elástico.

Luísa admirava muito a sua experiência do luxo; obedecia-lhe, amoldava-se suas idéias: - até afetar, sem o sentir, um desdém pela gente virtuosa, para imitar as suas opiniões libertinas.

E lentamente, vendo aquela docilidade, Basílio não se dava ao incômodo de se constranger; usava dela, como se a pagasse! Acontecera uma manhã escrever-lhe duas palavras a lápis que não podia ir ao Paraíso, sem outras explicações! Uma ocasião mesmo não foi, sem a avisar - e Luísa achou a porta fechada. Bateu timidamente, olhou pela fechadura, esperou palpitante - e voltou muito desconsolada, quebrada do calor, com a poeirada nos olhos, e vontade de chorar.

Não aceitava o menor incômodo, nem para lhe causar um contentamento. Luísa tinha-lhe pedido que fosse de vez em quando aos domingos à sua casa, passar a noite; viriam Sebastião, o Conselheiro, D. Felicidade quando estivesse melhor; era uma alegria para ela, e depois dava às suas relações um ar mais parente, mais legítimo.

Mas Basílio pulou:

- O quê! Ir cabecear de sono com quatro caturras... Ah! Não!...

- Mas conversa-se, faz-se música...

- Merci! Conheço-a, a música das soirées de Lisboa! A Valsa do Beijo e o Trovador. Safa!

Depois duas ou três vezes falara de Jorge com desdém. Aquilo ofendera-a.

Ultimamente mesmo, quando ela entrava no Paraíso, já não tinha a delicadeza amorosa de se levantar alvoroçado: sentava-se apenas na cama, e tirando preguiçosamente o charuto da boca:

- Ora viva a minha flor! - dizia.

E um ar de superioridade quando lhe falava! Um modo de encolher os ombros, de exclamar: "Tu não percebes nada disso!" Chegava a ter palavras cruas, gestos brutais.





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