O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 228 / 414

ir ao Brasil; onde hás de tu ficar? Queres ir também, um mês num beliche, arriscar-te à febre amarela? E se teu marido nos persegue, se formos detidos na fronteira? Achas bonito voltar entre dois polícias, e ir passar um ano ao Limoeiro? O teu caso é simplicíssimo. Entendes-te com essa criatura; dá-se-lhe um par de libras, que é o que ela quer, e ficas em tua casa, sossegada, respeitada como dantes - somente mais acautelada! Aqui está!

Aquelas palavras caíam sobre os planos de Luísa, como machadadas que derrubam árvores. Às vezes a verdade que elas continham atravessava-a irresistivelmente, viva como um relâmpago, desagradável como um gume frio. Mas via naquela recusa uma ingratidão, um abandono. Depois de se ter instalado, pela imaginação, numa segurança feliz, longe, em Paris - parecia-lhe intolerável ter de voltar para casa, de cabeça baixa, sofrer Juliana, esperar a morte; e os contentamentos que entrevira naquele outro destino, agora que lhe fugiam de entre as mãos, pareciam-lhe maravilhosos, quase indispensáveis! E depois de que servia resgatar a carta a dinheiro? A criatura saberia o seu segredo! E a vida seria amarga, tendo sempre em volta de si aquele perigo a rondar!

Ficara calada, como perdida numa reflexão vaga; e de repente erguendo a cabeça, com um olhar brilhante:

- Então, dize!...

- Mas estou-te a dizer, filha...

- Não queres?

- Não! - exclamou Basílio com força. - Se tu estás doida, não estou eu!

- Oh! Pobre de mim, pobre de mim!

Deixou-se cair no sofá, tapou o rosto com as mãos. Soluços baixos sacudiam-lhe o peito.

Basílio sentou-se ao pé dela. Aquelas lágrimas mortificavam-no, impacientavam-no.

- Mas, santo nome de Deus, escuta-me!

Ela voltou para ele os olhos que reluziam sob o pranto:

- Para que dizias então, tantas vezes, que seríamos tão felizes; que se eu quisesse.





Os capítulos deste livro