O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 227 / 414

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- O que me resta é fugir. Aqui estou. Leva-me. Tu disseste que podias, tem-lo dito muitas vezes. Estou pronta. Trouxe aquele saco, com o necessário, lenço, luvas... hem?

Basílio com as mãos nos bolsos, fazendo tilintar o dinheiro e as chaves, seguia atônito os seus gestos, as suas palavras.

- Isso só a ti! - exclamou. - Que doida! Que mulher! E muito excitado: - Isto é lá questão de fugir! Que estás tu a falar em fugir? É uma questão de dinheiro. O que ela quer é dinheiro. É ver quanto quer, e pagar-se-lhe!

- Não, não! - fez Luísa. - Não posso ficar! - Tinha uma aflição na voz. A mulher venderia a carta, mas conservava o segredo; a todo o tempo podia falar, Jorge saber; estava perdida; não tinha coragem de voltar para casa! - Não sinto

um momento de descanso, enquanto estiver em Lisboa. Partimos hoje, sim? Se não podes, amanhã. Eu vou para algum hotel, onde ninguém saiba; escondo-me esta noite. Mas, amanhã vamos. Se ele sabe, mata-me, Basílio! Sim, dize que sim!

- Agarrara-se a ele; procurava avidamente com os seus olhos o consentimento dos dele.

Basílio desprendeu-se brandamente:

- Estás doida, Luísa; tu não estás em ti! Pode lá pensar-se em fugir? Era um escândalo atroz; éramos apanhados decerto, com a policia, com os telégrafos! t impossível! Fugir é bom nos romances! E depois, minha filha, não é um caso para isso! É uma simples questão de dinheiro...

Luísa fazia-se branca, ouvindo-o.

- E além disso - continuou Basílio, muito agitado, pelo quarto - eu não estou preparado, nem tu! Não se foge assim. Ficas desacreditada para toda a vida, sem remédio, Luísa. Uma mulher que foge, deixa de ser a senhora D. Fulana; é a fúlana, a que fugiu, a desavergonhada, uma concubina! Eu tenho decerto de





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