O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 245 / 414

- Receio muito que se repita comigo o caso bíblico da mulher de Putifar. Acredita que há um certo mérito em lhe resistir, porque a mulher, estanqueira como é, é lindíssima. E tenho medo que suceda algum fracasso à minha pobre virtude...

Luísa interrompeu-se, e olhou Sebastião com um olhar terrível.

- São brincadeiras! - balbuciou ele.

Ela seguiu, lendo:

- Olha, se a Luísa soubesse desta aventura! De resto, o meu sucesso não pára aqui: a mulher do delegado faz-me um olho dos diabos! É de Lisboa, de uma gente Gamacho, que parece que mora para Belém, conheces? E dá-se ares de morrer de tédio, na tristeza provinciana da localidade. Deu uma soirée em minha honra, e em minha honra, creio também, decotou-se. Muito bonito colo.

Luísa fez-se escarlate.

- É uma queda do diabo...

- Está doido! - exclamou ela.

- E aqui tens o teu amigo feito um D. Juan do Alentejo, e deixando um rasto de chamas sentimentais por essa província fora. O Pimentel recomenda-se...

Luísa ainda leu baixo algumas linhas, e erguendo-se bruscamente, dando a carta a Sebastião:

- Muito bem, diverte-se! - disse com uma voz sibilante.

- São lá coisas que se tomem a sério! Não deve tomar a sério...

- Eu! - exclamou ela. - Acho muito natural até!

Sentou-se, começou, com volubilidade, a falar de outras coisas, de D. Felicidade, de Julião...

- Trabalha muito agora para o concurso - disse Sebastião. - Quem não tenho visto é o Conselheiro.

- Mas, quem é essa gente Gamacho, de Belém?

Sebastião encolheu os ombros - e com um ar quase repreensivo:

- Ora, realmente tomou a sério...

Luísa interrompeu-o:

- Ah! Sabe? Meu primo Basílio partiu.

Sebastião teve um alvoroço de alegria.

- Sim?

- Foi para Paris; não creio que volte.





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