O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 248 / 414

.. Veio-lhe uma onda de ciúme, que lhe obscureceu o olhar; se ele a enganasse, se tivesse a certeza da "mais pequena coisa" - separava-se, recolhia-se a um convento, morria decerto, matava-o!...

- Minha senhora - veio dizer Joana -, é um galego com esta carta. Está à espera da resposta.

Que espanto! Era de Juliana!

Escrita em papel pautado, numa letra medonha, eriçada de erros de ortografia, dizia:

Minha senhora.

Bem sei que fui imprudente, o que a senhora deve atribuir tanto à minha desgraça como à falta de saúde, o que às vezes faz que se tenham génios repentinos. Mas se a senhora quer que eu volte e faça o serviço como dantes - ao qual creio que a senhora não pode opor-se, terei muito gosto em ser agradável na certeza que nunca mais se falará em tal até que a senhora queira, e cumpra o que prometeu. Prometo fazer o meu serviço, e desejo que a senhora esteja por isto pois que é para bem de todos. Pois que foi génio e naturalmente todos têm os seus repentes, e com isto não canso mais e sou

Serva muito obediente

a criada

Juliana Couceiro Tavira.

Ficou com a carta na mão, sem resolução. A sua primeira vontade foi dizer - "não!" Tornar a recebê-la, vê-la, com a sua face horrível, a cuia enorme! Saber que ela tinha no bolso a sua carta, a sua desonra, e chamá-la, pedir-lhe água, a lamparina, ser servida por ela! Não! Mas veio-lhe um terror; se recusasse irritava a criatura; Deus sabe o que faria! Estava nas mãos dela; devia passar por tudo. Era o seu castigo... Hesitou ainda um momento:

- Que sim, que venha, é a resposta.

Juliana veio com efeito às oito horas. Subiu pé ante pé para o sótão, pôs o fato de casa e as chinelas, e desceu para o quarto dos engomados, onde Joana sentada num tapete costurava, à luz do petróleo.





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