O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 247 / 414

.. - Mas vendo Sebastião olhar o relógio: - O quê, já? É cedo.

Tinha de estar na Baixa antes das três, disse ele.

Luísa quis retê-lo. Não sabia para quê - porque a cada momento sentia a sua resolução diminuir, desaparecer como a água de um rio que se absorve no seu leito. Pôs-se a falar-lhe das obras de Almada.

Sebastião começara-as pensando que duzentos ou trezentos mil réis fariam as restaurações necessárias; mas depois umas coisas tinham trazido outras - e, dizia, está-se-me tornando um sorvedouro!

Luísa riu, forçadamente.

- Ora, quando se é proprietário e rico!...

- Isso sim! Parece que não é nada: mas uma pintura numa porta, uma janela nova, uma sala forrada de papel, um soalho, e isto e aquilo, e lá se vão oitocentos mil réis... Enfim!...

Levantou-se, e despedindo-se:

- Eu espero que aquele vadio se não demore muito...

- Se a estanqueira der licença... Ficou a passear na sala, nervosa, com aquela idéia. Deixar-se namorar pela estanqueira, e a mulher do delegado, e as outras!... Decerto, tinha confiança nele, mas os homens!... De repente representou-lhe a estanqueira prendendo-o nos braços detrás do balcão, ou Jorge beijando, nalguma entrevista, de noite, o colo bonito da mulher do delegado!... E tumultuosamente apareceram-lhe todas as razoes que provavam irrecusavelmente a traição de Jorge: estava há dois meses fora! Sentia-se cansado da sua viuvez! Encontrava uma mulher bonita! Tomava aquilo como um prazer passageiro, sem importância!... Que infame! Resolveu escrever-lhe uma carta digna e ofendida, que viesse imediatamente - ou que partia ela - Entrou no quarto, muito excitada. A fotografia de Jorge, que ela tirara na véspera do saco de marroquim, ficara no toucador. Pôs-se a olhá-la: não admirava que o namorassem; era bonito, era amável.





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