O Primo Basílio - Cap. 10: CAPÍTULO X Pág. 284 / 414

Que era? Que tinha? Luísa não se dominou, rompeu choro nervoso, histérico.

- Mas que é, minha filha, que tens? Zangaste-te?...

Ela não podia responder, sufocada. Jorge fez-lhe respirar vinagre de toalete, beijou-a muito.

Só quando o choro acalmou é que ela pôde dizer, com voz soluçada:

- Falaste-me tão secamente, e eu estou tão nervosa...

Ele riu, chamou-lhe tontinha, limpou-lhe as lágrimas - mas ficou inquieto.

Já então lhe notara certas tristezas, abatimentos inexplicáveis, uma irritabilidade nervosa... Que seria?

Para que Jorge não tornasse a surpreender os desleixos, Luísa começou a completar todas as manhãs os arranjos. Juliana percebeu logo; e muito tranquilamente decidiu-se a deixar-lhe de cada vez mais com que se entreter. Ora não varria, depois não fazia a cama; enfim uma manhã não vazou as águas sujas. Luísa foi espreitar no corredor que Joana não descesse, não a visse, e fez ela mesma os despejos! Quando veio ensaboar as mãos, as lágrimas corriam-lhe pelo rosto. Desejava morrer!... A que tinha chegado!...

D. Felicidade, um dia, tendo entrado de repente, surpreendera-a a varrer a sala.

- Que eu o faça - exclamou - que tenho só uma criada, mas tu!...

- A Juliana tinha tanto que engomar...

- Ai! Não lhe tires serviço do corpo, que não to agradece. E ainda se ri por cima! Se a pões em maus costumes!... Que aguente, que aguente!

Luísa sorriu, disse:

- Ora, por uma vez na vida!

A sua tristeza aumentava cada dia.

Refugiava-se então no amor de Jorge como na sua única consolação. A noite trazia-lhe a sua desforra; Juliana a essa hora dormia; não via a sua cara medonha; não a receava; não tinha de a elogiar; não trabalhava por ela! Era ela mesma, era Luísa, como dantes! Estava





Os capítulos deste livro