Jorge estranhava-a. "Tu de noite és outra", dizia. Chamava-lhe "ave noturna". Ela ria em saia branca pelo quarto, com os braços nus, o colo nu, o cabelo num rolo; e passarinhava, cantarolava, chalrava - até que Jorge lhe dizia:
- Passa da uma hora, filha!
Despia-se então rapidamente, caía-lhe nos braços.
Mas que acordar! Por mais clara que estivesse a manhã, tudo lhe parecia vagamente pardo. A vida sabia-lhe má. Vestia-se devagar, com repugnância - entrando no seu dia como numa prisão.
Perdera agora toda a esperança de se libertar! Às vezes ainda lhe vinha, como um relâmpago, a vontade de contar tudo a Sebastião, tudo. Mas quando o via, com o seu olhar honesto, abraçar Jorge, rirem ambos, e irem fumar o seu cachimbo, e ele tão cheio sempre de admiração por ela, parecia-lhe mais fácil sair para a rua, pedir dinheiro ao primeiro homem que encontrasse - que ir a Sebastião, ao íntimo de Jorge, ao melhor amigo da casa, dizer-lhe: "Escrevi uma carta a um homem, a criada roubou-ma!" Não, antes morrer naquela agonia de todos os dias, e ter ela mesma, de rastos, de lavar as escadas! As vezes refletia, pensava: - "Mas com que conto eu? -" Não sabia. Com o acaso, com a morte de Juliana... E deixava-se viver, gozando como um favor cada dia que vinha sentindo vagamente, à distância, alguma coisa de indefinido e de tenebroso onde se afundaria!
Por esse tempo Jorge começou a queixar-se que as suas camisas andavam mal-gomadas. A Juliana positivamente "perdia a mão". Um dia mesmo zangou-se; chamou-a, e atirando-lhe uma camisa toda