- Isto não se pode vestir, está indecente!
Juliana fez-se amarela; cravou em Luísa um olhar chamejante; mas, com os beiços trémulos, desculpou-se: a goma era má, fora já trocá-la, etc.
Apenas, porém, Jorge saiu, veio como uma rajada ao quarto, fechou a porta e pôs-se a gritar - que a senhora sujava um ror de roupa, o senhor um ror de camisas, que se não tivesse alguém que a ajudasse não podia dar aviamento!... Quem queria negras trazia-as do Brasil!
- E não estou para aturar o génio do seu marido, percebe a senhora? Se quer é arranjar quem me ajude.
Luísa disse simplesmente:
- Eu a ajudarei.
Tinha agora uma resignação muda, sombria, aceitava tudo!
Logo no fim da semana houve uma grande trouxa de roupa; e Juliana veio dizer que se a senhora passasse, ela engomava. Senão, não!
Estava um dia adorável; Luísa tencionava sair... Pôs um roupão, e, sem uma palavra, foi buscar o ferro.
Joana ficou atônita.
- Então a senhora vai engomar?
- Há uma carga, e a Juliana só não pode aviar tudo, coitada!
Instalou-se no quarto dos engomados - e estava laboriosamente passando a roupa branca de Jorge, quando Juliana apareceu, de chapéu.
- Você vai sair? - exclamou Luísa.
- É o que eu vinha dizer à senhora. Não posso deixar de sair. - E abotoava as luvas pretas.
- Mas as camisas, quem as engoma?
- Eu vou sair - disse a outra secamente.
- Mas, com os diabos, quem engoma as camisas?
- Engome-as a senhora! Olha a sarna!
- Infame! gritou Luísa. Atirou o ferro para o chão, saiu impetuosamente.
Juliana sentiu-a ir pelo corredor aos soluços.
Pôs-se logo a tirar o chapéu e as luvas, assustada. Daí a um momento ouviu a cancela da rua bater com força. Veio ao quarto, viu o roupão de Luísa arremessado, a chapeleira tombada.