O Primo Basílio - Cap. 11: CAPÍTULO XI Pág. 307 / 414

Viram então aparecer uma bela mulher de trinta anos, muito branca, de olhos negros e formas ricas, com um vestido de merino azul, trazendo numa bandeja de prata, onde tremelicavam copinhos, a garrafa de conhaque e o frasco de curaçau.

- Boa moça! - rosnou com o rosto aceso o Alves Coutinho.

Julião quase lhe tapou a boca com a mão. E falando-lhe ao ouvido, olhando o Conselheiro, recitou:

- Não ouses, temerário, erguer teus olhos Para a mulher de César!

E enquanto se bebia o curaçau, Julião pé ante pé dirigiu-se ao escritório, e foi erguer a ponta do xale-manta pardo que tanto o preocupava; eram rumas de livros brochados, atadas com guitas - as obras do Conselheiro intactas!

Quando Jorge entrou, às onze horas, Luísa já deitada lia, esperando-o.

Quis saber do jantar do Conselheiro.

Excelente, contou Jorge, começando a despir-se. Gabou muito os vinhos. Tinha havido speechs... E de repente:

- É verdade, onde ias tu a Arroios?

Luísa passou devagar as mãos sobre o rosto para lhe cobrir a alteração. Disse, bocejando ligeiramente:

- A Arroios?

- Sim. O Saavedra, um sujeito que estava em casa do Conselheiro, diz que te via passar todos os dias para lá, de trem e a pé.

- Ah! - fez Luísa depois de tossir - ia ver a Guedes, uma rapariga que andou comigo no colégio, que tinha chegado do Porto. A Silva Guedes!

- Sílva Guedes!... - disse Jorge refletindo. - Imaginei que estava secretário-geral em Cabo Verde!

- Não sei. Estiveram aí um mês no verão. Moravam a Arroios. Ela estava doente coitada: eu ia lá às vezes. Mandava-me pedir para ir lá. Põe essa luz fora, está-me a fazer impressão.

Queixou-se então que toda a tarde estivera esquisita. Sentia-se fraca, e com uma pontinha de febre.





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