O Primo Basílio - Cap. 12: CAPÍTULO XII Pág. 330 / 414

Sentia-se agora muito mal, e nas noites em que não podia dormir com aflições asmáticas, punha-se a pensar com terror - se fosse expulsa daquela casa, para onde iria? Para o hospital!

Tinha por isso medo de Jorge.

- Ele está morto por me pilhar em desleixo grosso, e descartar-se de mim - dizia ela à tia Vitória -, mas não lhe hei de dar esse gosto, ao boi manso!

E Luísa, pasmada, vira-a pouco a pouco recomeçar a fazer todo o serviço, com zelo, aparentemente; e todavia às vezes não podia, vencida pela doença; tinha flatos que a faziam cair numa cadeira, arquejando, com as mãos no coração. Mas reagia. Uma ocasião mesmo vendo Luísa a passar um espanejador pelas consolas da sala, zangou-se:

- A senhora faz favor de se não meter no meu serviço? Eu ainda posso! Ainda não estou na cova!

Consolava-se então com regalos de gulodice. Durante todo o dia debicava sopinhas, croquetes, pudinzinhos de batata. Tinha no quarto gelatina e vinho do Porto. Em certos dias mesmo queria caldos de galinha à noite.

- Com o meu corpo o pago - dizia ela a Joana -, que trabalho como uma negra! Arraso-me!

Um dia, porém, que Jorge se irritara mais com a figura amarelada de Juliana, e que estava nervoso, ao achar à noite o jarro vazio e o lavatório sem toalha, enfureceu-se desproporcionadamente.

- Não estou para aturar estes desleixos! Irra! - gritou.

Luísa veio logo, inquieta, desculpar Juliana.

Jorge mordeu o beiço, curvou-se profundamente e com a voz um pouco trémula:

- Perdão! Esquecia-me que a pessoa de Juliana é sagrada! Eu mesmo vou buscar água!

Luísa então zangou-se: se havia de estar sempre com aqueles remoques, era mandar a criada embora por uma vez! Imaginava talvez que ela amava de paixão Juliana? Se a conservava é porque era uma boa criada.





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