Mas se ela se tornava a causa de maus humores, de questões, se ele lhe ganhara tamanho ódio, bem, então que se fosse! Era uma seca aquela ironia constante... Jorge não respondeu.
E durante a noite Luísa, sem dormir, pensava que aquilo não podia durar! Estava farta! Aturar a mulher, a sua tirania, e ouvir a todo o momento ditinhos, alusões, ah, não! Era demais! Bastava! Ele começava a desconfiar, a bomba ia estalar! Pois bem, ela mesma chegaria o lume ao rastilho! Ia mandar a Juliana embora! E que mostrasse as cartas, acabou-se! Se ele a metesse num convento, se separasse dela, bem! Sofreria, morreria! Tudo, menos aquele martírio reles, às picadinhas, medonho e grotesco!
- Que tens tu? - perguntou Jorge meio a dormir, sentindo-a inquieta.
- Espertina.
- Coitada! Conta cento e cinquenta para trás! - E voltou-se, enrolando-se comodamente na roupa.
Ao outro dia Jorge levantara-se cedo. Devia encontrar-se com o Alonso, o espanhol das minas, e jantar com ele no Gibraltar. Depois de vestido foi à sala de jantar - eram dez horas - e voltou dizer a Luísa, com uma cortesia profunda, espaçando as palavras: - que não estava a mesa posta! Que as chávenas do chá « da véspera estavam ainda por lavar! E que a senhora D. Juliana, a ilustre senhora D. Juliana tinha saído, a seu passeio!
Eu disse-lhe ontem à noite que me fosse-me ao sapateiro... - começou Luísa, que vestia o seu roupão.
- Ah, perdão! - interrompeu Jorge muito cerimoniosamente.
- Esqueci-me outra vez que se trata de Juliana, tua ama e senhora! Perdão!
Luísa acudiu logo:
- Não. Tens razão. Tu verás! É preciso pôr um cobro...
Subiu logo à cozinha, desesperada:
- Você por que não pôs a mesa, Joana, se a outra saiu?
Mas a rapariga não ouvira sair a Sra.