O Primo Basílio - Cap. 15: CAPÍTULO XV Pág. 394 / 414

imobilizando, apenas a sua cabeça rolava num movimento doce e vagaroso sobre o travesseiro, gemendo sempre com um cansaço triste; a pele empalidecia como um vidro de janela, por trás do qual lentamente uma luz se apaga; e mesmo os ruídos da rua que começavam não a impressionavam, como se fossem muito distantes e abafados em algodão.

Ao meio-dia D. Felicidade apareceu. Ficou petrificada quando a viu tão mal; e ela que a vinha buscar para irem à Encarnação, talvez às lojas! Tirou logo o chapéu, instalou-se; fez arranjar a alcova, tirar as bacias, os velhos sinapismos que arrastavam, compor a cama - porque não havia pior para um doente que desarranjo no quarto; e muito corajosamente animava Jorge.

Uma carruagem parou à porta. Era o Dr. Caminha, enfim!... Entrou atabafado no seu cachenê de quadrados verdes e pretos queixando-se muito do frio; - e tirando devagar as grossas luvas de casimira, que pôs dentro do chapéu metodicamente, adiantou-se para a alcova com um passo cadenciado, acamando com a mão as suas repas grisalhas já muito coladas ao crânio pela escova.

Julião e ele ficaram sós na alcova.

No quarto os outros esperavam calados, ao pé de Jorge, pálido como cera, com os olhos vermelhos como carvões.

- Vai-se-lhe pôr um cáustico na nuca - veio dizer Julião.

Jorge devorava com o olhar ansioso o Dr. Caminha, que se pusera a calçar tranquilamente as suas luvas de casimira, dizendo:

- Vamos a ver com o cáustico. Não está bem... Mas há ainda pior. E eu volto, meu amigo, eu volto.

O cáustico foi inútil. Não o sentia, imóvel e branca, com as feições crispadas; e tremuras passaram-lhe de repente nos nervos da face como vibrações fugitivas.

- Está perdida - disse Julião baixo a Sebastião.

D. Felicidade ficou muito aterrada, falou logo nos sacramentos.





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