Ao meio-dia D. Felicidade apareceu. Ficou petrificada quando a viu tão mal; e ela que a vinha buscar para irem à Encarnação, talvez às lojas! Tirou logo o chapéu, instalou-se; fez arranjar a alcova, tirar as bacias, os velhos sinapismos que arrastavam, compor a cama - porque não havia pior para um doente que desarranjo no quarto; e muito corajosamente animava Jorge.
Uma carruagem parou à porta. Era o Dr. Caminha, enfim!... Entrou atabafado no seu cachenê de quadrados verdes e pretos queixando-se muito do frio; - e tirando devagar as grossas luvas de casimira, que pôs dentro do chapéu metodicamente, adiantou-se para a alcova com um passo cadenciado, acamando com a mão as suas repas grisalhas já muito coladas ao crânio pela escova.
Julião e ele ficaram sós na alcova.
No quarto os outros esperavam calados, ao pé de Jorge, pálido como cera, com os olhos vermelhos como carvões.
- Vai-se-lhe pôr um cáustico na nuca - veio dizer Julião.
Jorge devorava com o olhar ansioso o Dr. Caminha, que se pusera a calçar tranquilamente as suas luvas de casimira, dizendo:
- Vamos a ver com o cáustico. Não está bem... Mas há ainda pior. E eu volto, meu amigo, eu volto.
O cáustico foi inútil. Não o sentia, imóvel e branca, com as feições crispadas; e tremuras passaram-lhe de repente nos nervos da face como vibrações fugitivas.
- Está perdida - disse Julião baixo a Sebastião.
D. Felicidade ficou muito aterrada, falou logo nos sacramentos.