O Primo Basílio - Cap. 3: CAPÍTULO III Pág. 60 / 414

Tinha pedido à senhora um mês adiantamento! Estava sem camisas! As duas que tinha eram uns trapos! Pelo gosto da que trazia, a desfazerem-se!

- Mas, então! - suspirou. - O meu rapaz precisou um dinheiro...

- Vossemecê também, Sra. Joana, deixa-se cardar pelo homem!

Joana sorriu.

- Ainda que eu tivesse de roer ossos, Sra. Juliana, a última migalha havia de ser para ele!

Juliana teve um risinho seco, e com a voz arrastada:

- Vale lá a pena!

Mas invejava asperamente a cozinheira pela posse daquele amor, pelas suas delícias. Repetiu, contrafeita:

- Vale lá a pena! Perfeito rapaz - continuou - o que veio hoje ver a senhora! Melhor que o homem!

E depois de uma pausa:

- Então esteve mais de duas horas?

- Tinha saído quando vossemecê entrou.

Mas o candeeiro de petróleo apagava-se, com um cheiro fétido e uma fumarada negra.

- Boa noite, Sra. Joana. Ainda vou rezar a minha coroa.

- Ó Sra. Juliana! - disse a outra de entre os lençóis. - Se vossemecê quer ~ três salve-rainhas pela saúde do meu rapaz que tem estado adoentado, eu cá lhe rezava três pelas melhoras do peito.

- Pois sim, Sra. Joana!

Mas refletindo:

- Olhe. Eu do peito vou melhor; dê-mas antes para alívio das dores de cabeça. A Santa Engrácia!

- Como vossemecê quiser, Sra. Juliana.

- Se faz favor. Boa noite! Fica-lhe aí um cheiro! Credo!

Foi para o quarto. Rezou, apagou a luz. Um calor mole e contínuo caía do forro; começou a faltar-lhe o ar; tornou a abrir o postigo, mas o bafo quente que vinha dos telhados enjoava-a: e era assim todas as noites, desde o começo do estio! Depois as madeiras velhas fervilhavam de bicharia! Nunca, nunca, nas casas que servira, tinha tido um quarto pior. Nunca!

A cozinheira começou a ressonar ao lado.





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