Subiu à cozinha, devagar - lograda.
- Temos grande novidade, Sra. Joana! O tal peralta é primo. Diz que é o primo Basílio.
E com um risinho:
- É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à última hora! O diabo tem graça!
- Então que havia de o homem ser senão parente? - observou Joana.
Juliana não respondeu. Quis saber se estava o ferro pronto, que tinha uma carga de roupa para passar! E sentou-se à janela, esperando. O céu baixo e pardo pesava, carregado de eletricidade; às vezes uma aragem súbita e fina punha nas folhagens dos quintais um arrepio trémulo.
- "É o primo!" - refletia ela. - "E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa branca e mais roupa branca, e roupão novo, e tipóia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na família!"
Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lograda. Havia ali muito "para ver e escutar". E o ferro, estava pronto?
Mas a campainha embaixo, tocou.
- Boa! Isto agora é um fadário! Estamos na casa do despacho!
Desceu; e exclamou logo, vendo Julião com um livro debaixo do braço:
- Faz favor de entrar, Sr. Julião! A senhora está com o primo, mas diz que mandasse entrar!
Abriu a porta da sala bruscamente, de surpresa.
- Está aqui o Sr. Julião - disse com satisfação.
Luísa apresentou os dois homens.
Basílio ergueu-se do sofá languidamente, e, num relance, percorreu Julião desde a cabeleira desleixada até às botas malengraxadas, com um olhar quase horrorizado.
- "Que pulha!" - pensou.
Luísa, muito fina, percebeu, e corou, envergonhada de Julião.
Aquele homem de colarinho enxovalhado e com um velho casaco de pano preto malfeito - que idéia daria a Basílio das relações, dos amigos da casa! Sentia já o seu chique diminuído.