O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 91 / 414

.. Que longe do seu pensamento lançar desdouro nessa parte da população... As suas idéias liberais eram bem conhecidas. - Apelo para a senhora D. Luísa! - disse. - Mas enfim, sempre era mais agradável encontrar uma roda escolhida! Em quanto a si nunca ia ao Passeio. Talvez não acreditassem, mas nem mesmo quando havia fogo de vistas! Nesses dias, sim, ia ver por fora das grades. Não por economia! Decerto não. Não era rico, mas podia fazer face a essa contribuição diminuta. Mas é que receava os acidentes! É que os receava muito! Contou a história de um sujeito, cujo nome lhe escapava, a quem uma cana de foguete furara o crânio. - E além disso nada mais fácil que cair uma fagulha acesa na cara, num paletó novo... - É conveniente ter prudência - resumiu, compenetrado, limpando os beiços com o lenço de seda da Índia muito enrolado.

Falaram então da estação; muita gente fora para Sintra; de resto, Lisboa no verão era tão secante!... E o Conselheiro declarou que Lisboa só era imponente verdadeiramente imponente, quando estavam abertas as câmaras e São Carlos!

- Que estavas tu a tocar quando eu entrei? - perguntou Basílio.

O Conselheiro acudiu logo:

- Se estavam fazendo música, por quem são... Sou um velho assinante de São Carlos, há dezoito anos...

Basílio interrompeu-o:

- Toca?

- Toquei. Não o oculto. Em rapaz fui dado à flauta. E acrescentou, com um gesto benévolo:

- Rapaziadas!... Alguma novidade, o que estava tocando, D. Luísa?

- Não! Uma música muito conhecida, já antiga; a Filha do pescador, de Meyerbeer. Tenho a letra traduzida.

Tinha cerrado as vidraças, sentara-se ao piano.

O Sebastião é que toca isto bem, não é verdade, Conselheiro?

- O nosso Sebastião - disse o Conselheiro com autoridade - é um rival dos Thalbergs e dos Liszts.





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