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Capítulo 4: CAPÍTULO IV

Página 92
Conhece o nosso Sebastião? - perguntou a Basílio.

- Não, não conheço.

- Uma pérola!

Basílio tinha-se aproximado do piano devagar, frisando o bigode.

Tu ainda cantas? - perguntou4he Luísa, sorrindo.

- Quando estou só.

Mas o Conselheiro pediu-lhe logo "um trecho". Basílio ria. Tinha medo de escandalizar um velho assinante de São Carlos...

O Conselheiro animou-o; disse mesmo paternalmente:

- Coragem Sr. Brito, coragem! Luísa então preludiou.

E Basílio soltou logo a voz, cheia, bem timbrada, de barítono; as suas notas altas faziam a sala sonora. O Conselheiro, direito na poltrona escutava concentrado; a sua testa, franzida num vinco, parecia curvar-se sob uma responsabilidade de juiz; e as lunetas defumadas destacavam, com reflexos escuros, naquela fisionomia de calvo, que o calor tornava mais pálida.

Basílio dizia com uma melancolia grave a primeira frase, tão larga, da canção:

- Igual ao mar sombrio Meu coração profundo...

Um poeta, com uma dedicação obscura, traduzira a letra no Almanaque das Senhoras; Luísa pela sua própria mão a tinha copiado nas entrelinhas da música. E Basílio debruçado sobre o papel sempre torcendo as pontas do bigode:

- Tem tempestades, cóleras, Mas pérolas no fundo!

Os olhos largos de Luísa afirmavam-se para a música - ou a espaços, com um movimento rápido, erguiam-se para Basílio. Quando, na nota final, prolongada como a reclamação de um amor suplicante, Basílio soltou a voz de um modo apelativo:

- Vem! Vem Pousar, ó doce amada, Teu peito contra o meu...

os seus olhos fixaram-se nela com uma significação de tanto desejo que o peito de Luísa arfou, os seus dedos embrulharam-se no teclado.

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Capa do livro O Primo Basílio
Páginas: 414
Página atual: 92

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I 1
CAPÍTULO II 24
CAPÍTULO III 45
CAPÍTULO IV 70
CAPÍTULO V 121
CAPÍTULO VI 154
CAPÍTULO VII 191
CAPÍTULO VIII 213
CAPÍTULO IX 251
CAPÍTULO X 273
CAPÍTULO XI 293
CAPÍTULO XII 327
CAPÍTULO XIII 346
CAPÍTULO XIV 366
CAPÍTULO XV 387
CAPÍTULO XVI 400
"O PRIMO BASÍLIO" (CARTA A TEÓFILO BRAGA) 411