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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 145
O Alencar porém cofiava sombriamente o bigode. Ultimamente pendia para ideias radicais, para a democracia humanitária de 1848: por instinto, vendo o romantismo desacreditado nas letras, refugiava-se no romantismo político, como num asilo pararelo: queria uma república governada por génios, a fraternização dos povos, os Estados Unidos da Europa... Além disso, tinha longas queixas desses politiquotes, agora gente de Poder, outrora seus camaradas de redacção, de café e de batota...

- Isso, disse ele, lá a respeito de talento e de saber, histórias... Eu conheço-os bem, meu Cohen...

O Cohen acudiu:

- Não senhor, Alencar, não senhor! Você também é dos tais ... Até lhe fica mal dizer isso... É exageração. Não senhor, há talento, há saber.

E o Alencar, perante esta intimação do Cohen, o respeitado director do Banco Nacional, o marido da divina Rachel, o dono dessa hospitaleira casa da rua do Ferregial onde se jantava tão bem, recalcou o despeito - admitiu que não deixava de haver talento e saber.

Então, tendo assim, pela influência do seu Banco, dos belos olhos da sua mulher e da excelência do seu cozinheiro, chamado estes espíritos rebeldes ao respeito dos Parlamentares e à veneração da Ordem, Cohen condescendeu em dizer, no tom mais suave da sua voz, que o país necessitava reformas...

Ega porém, incorrigível nesse dia, soltou outra enormidade:

- Portugal não necessita reformas, Cohen, Portugal o que precisa é a invasão espanhola.

Alencar, patriota à antiga, indignou-se. O Cohen, com aquele sorriso indulgente de homem superior que lhe mostrava os bonitos dentes, viu ali apenas «um dos paradoxos do nosso Ega.» Mas o Ega falava com seriedade, cheio de razões. Evidentemente, dizia ele, invasão não significa perda absoluta de independência. Um receio tão estúpido é digno só de uma sociedade tão estúpida como a do Primeiro de Dezembro. Não havia exemplo de seis milhões de habitantes serem engolidos, de um só trago, por um país que tem apenas quinze milhões de homens.

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pág. 145 (Capítulo 6)

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 145

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605