Depois ninguém consentiria em deixar cair nas mãos de Espanha, nação militar e marítima, esta bela linha de costa de Portugal. Sem contar as alianças que teríamos, a troco das colónias - das colónias que só nos servem, como a prata de família aos morgados arruinados, para ir empenhando em casos de crise...
Não havia perigo; o que nos aconteceria, dada uma invasão, num momento de guerra europeia, seria levarmos uma sova tremenda, pagarmos uma grossa indemnização, perdermos uma ou duas províncias, ver talvez a Galiza estendida até ao Douro...
- Poulet aux champignons, murmurou o criado, apresentando-lhe a travessa.
E em quanto ele se servia, perguntavam-lhe dos lados onde via ele a salvação do país, nessa catástrofe que tornaria povoação espanhola Celorico de Basto, a nobre Celorico, berço de heróis, berço dos Egas...
- Nisto: no ressuscitar do espírito publico e do génio português! Sovados, humilhados, arrasados, escalavrados, tínhamos de fazer um esforço desesperado para viver. E em que bela situação nos achávamos! Sem monarquia, sem essa caterva de políticos, sem esse tortulho da inscrição, porque tudo desaparecia, estávamos novos em folha, limpos, escarolados, como se nunca tivéssemos servido. E recomeçava-se uma história nova, um outro Portugal, um Portugal sério e inteligente, forte e decente, estudando, pensando, fazendo civilização como outrora... Meninos, nada regenera uma nação como uma medonha tareia... Oh Deus de Ourique, manda-nos o castelhano! E você, Cohen, passe-me o St. Emilion.
Agora, num rumor animado, discutia-se a invasão. Ah, podia-se fazer uma bela resistência! Cohen afiançava o dinheiro. Armas, artilharia, iam comprar-se à America - e Craft ofereceu logo a sua colecção de espadas do século XVI. Mas generais? Alugavam-se. Mac-Mahon, por exemplo, devia estar barato...
- O Craft e eu organizamos uma guerrilha, gritou Ega.
- às ordens, meu coronel.
- O Alencar, continuava Ega, é encarregado de ir despertar pela província o patriotismo, com cantos e com odes!