- Ah, disse Carlos depois de um silêncio, foi a senhora que apressou a partida?...
- Sim, senhor, com cuidado na menina que tinha ficado em Lisboa... V. Ex.ª toma mais cognac?
Com um gesto Carlos recusou, e veio sentar-se no terraço. A tarde descia, calma, radiosa, sem um estremecer de folhagem, cheia de claridade dourada, numa larga serenidade que penetrava a alma. Ele tê-la-ia pois encontrado, ali mesmo naquele terraço, vendo também cair a tarde - se ela não estivesse impaciente por tornar a ver a filha, algum bebezinho louro que ficara só com a ama. Assim, a brilhante deusa era também uma boa mamã; e isto dava-lhe um encanto mais profundo, era assim que ele gostava mais dela, com este terno estremecimento humano nas suas belas formas de mármore.
Agora, já ela estava em Lisboa; e imaginava-a nas rendas do seu peignoir, com o cabelo enrolado à pressa, grande e branca, erguendo ao ar o bebé nos seus esplêndidos braços de Juno, e falando-lhe com um riso de ouro. Achava-a assim adorável, todo o seu coração fugia para ela... Ah! poder ter o direito de estar junto dela, nessas horas de intimidade, bem junto, sentindo o aroma da sua pele, e sorrindo também a um bebé. E, pouco a pouco, foi-lhe surgindo na alma um romance, radiante e absurdo: um sopro de paixão, mais forte que as leis humanas, enrolava violentamente, levava juntos o seu destino e o dela; depois, que divina existência, escondida num ninho de flores e de sol, longe, nalgum canto da Itália...