A aparição do bacalhau foi um triunfo: - e a satisfação do poeta tão grande, que desejou mesmo, caramba, rapazes, que ali estivesse o Ega!
- Sempre queria que ele provasse este bacalhau! Já que me não aprecia os versos, havia de me apreciar o cozinhado, que isto é um bacalhau de artista em toda a parte!... Noutro dia fi-lo lá em casa dos meus Cohens; e a Rachel, coitadinha, veio para mim e abraçou-me... Isto, filhos, a poesia e a cozinha são irmãs! Vejam vocês Alexandre Dumas... Dirão vocês que o pai Dumas não é um poeta... E então d'Artagnan? D'Artagnan é um poema... É a faísca, é a fantasia, é a inspiração, é o sonho, é o arrobo! Então, poço, já vêem vocês, que é poeta!... Pois vocês hão-de vir um dia destes jantar comigo, e há-de vir o Ega, e hei-de vos arranjar umas perdizes à espanhola, que vos hão-de nascer castanholas nos dedos!... Eu, palavra, gosto do Ega! Lá essas coisas de realismo e romantismo, histórias... Um lírio é tão natural como um percevejo... Uns preferem fedor de sargeta; perfeitamente, destape-se o cano público... Eu prefiro pós de marechala num seio branco; a mim o seio, e, lá vai à vossa. O que se quer, é coração. E o Ega tem-no. E tem faísca, tem rasgo, tem estilo... Pois, assim é que eles se querem, e, lá vai à saúde do Ega!
Pousou o copo, passou a mão pelos bigodes, e rosnou mais baixo:
- E, se aqueles ingleses continuam a embasbacar para mim, vai-lhes um copo na cara, e é aqui um vendaval, que há-de a Grã-Bretanha ficar sabendo o que é um poeta português!...
Mas não houve vendaval, a Grã-Bretanha ficou sem saber o que é um poeta português, e o jantar terminou num café tranquilo. Eram nove horas, fazia luar, quando Carlos subiu para a almofada do break.
Alencar, embuçado num capote, um verdadeiro capote de padre de aldeia, levava na mão um ramo de rosas: e agora, guardara o seu panamá na maleta, trazia um boné de lontra.