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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 215

Palma alastrou as cartas largamente, sem se zangar. Entre amigos, que diabo, tudo se admitia! A sua espanhola, essa sim, escandalizou-se, defendendo a honra do seu homem: então Palmita havia de ter empalmado o rei? Mas, a Concha, zelava o dinheiro do seu viúvo, exclamava que o rei podia estar perdido... Os reis estavam lá.

Palma atirou um cálice de genebra às goelas, e recomeçou a baralhar majestosamente.

- Então v. Ex.ª não se tenta? repetia ele para o maestro.

Cruges, com efeito, parara, roçando-se pela mesa, com o olho nas cartas e no ouro do monte, já sem força, remexendo o dinheiro nas algibeiras. Subitamente um az decidiu-o. Com a mão nervosa, escorregou-lhe uma libra por baixo, jogando cinco tostões, e de porta. Perdeu logo. Quando Carlos voltou do quarto com o criado que descia as malas, o maestro estava em pleno vicio, com a libra entalada, os olhos acesos, o ar esguedelhado.

- Então tu?... exclamou Carlos com severidade.

- Já desço, rosnou o maestro.

E, à pressa, foi à paz da libra, num terno contra o rei. Cartada de cólicas! como disse o Palma: e foi com emoção que ele começou a puxar as cartas, espremendo-as uma a uma, num vagar mortal. A aparição de um bico arrancou-lhe uma praga. Era apenas um duque, Eusébiozinho perdia mais uma placa. Palma teve um suspirinho de alivio; e, escondendo com ambas as mãos o baralho, erguendo as lunetas faiscantes para o maestro:

- Então, sempre continua toda a libra?...

- Toda.

Palma teve outro suspiro, de ansiedade; e, mais pálido, voltou bruscamente as cartas.

- Rei! gritou ele, empolgando o ouro.

Era o rei de paus, a sua espanhola bateu as palmas, o maestro abalou furioso.

Na Lawrence o jantar prolongou-se até às oito horas, com luzes; - e o Alencar falou sempre. Tinha esquecido nesse dia as desilusões da vida, todos os rancores literários, estava numa veia excelente; e foram histórias dos velhos tempos de Sintra, recordações da sua famosa ida a Paris, coisas picantes de mulheres, bocados da crónica intima da Regeneração... Tudo isto com estridências de voz, e filhos isto! e rapazes aquilo! e gestos que faziam oscilar as chamas das velas, e grandes copos de Colares emborcados de um trago.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 215

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605