- Diz-lhe que já o adoro, murmurava ela curvada sobre a escrivaninha acariciando os cabelos de Pedro. Diz-lhe que se tiver um pequeno lhe hei de pôr o nome dele... Escreve-lhe uma carta bonita, hein!
E foi bonita, foi terna a carta de Pedro ao papá. O pobre rapaz amava-o. Falou-lhe comovido da esperança de ter um filho varão; as desinteligências deviam findar em torno do berço daquele pequeno Maia que ali vinha, morgado e herdeiro do nome...
Contava-lhe a sua felicidade com uma efusão de namorado indiscreto: a história da bondade de Maria, das suas graças, da sua instrução, enchia duas páginas: e jurava-lhe que apenas chegasse não tardaria uma hora em ir atirar-se aos seus pés...
Com efeito, apenas desembarcou, correu num trem a Benfica. Dois dias antes o pai partira para Santa Olávia: isto pareceu-lhe uma desfeita - e feriu-o acerbamente.
Fez-se então entre o pai e o filho uma grande separação. Quando lhe nasceu uma filha Pedro não lho participou – dizendo dramaticamente ao Vilaça «que já não tinha pai!» Era uma linda bebé, muito gorda, loira e cor-de-rosa, com os belos olhos negros dos Maias. Apesar do desejo de Pedro, Maria não a quis criar; mas adorava-a com frenesim; passava dias de joelhos ao pé do berço, em êxtase, correndo as suas mãos cheias de pedrarias pelas carninhas tenras, pondo-lhe beijos de devota nos pezinhos, na rosquinha das cochas, balbuciando-lhe num enlevo nomes de grande amor, e perfumando-a já, enchendo-a já de laçarotes.