Quando o conde de Gouvarinho lhe explicou muito sério a importância de Rabino, e que Rabino era quase uma glória publica, ela mostrou a dentuça, condescendeu em rosnar do fundo do papo que c'etait charmant. Todo o mundo a invejava; e a vasta baleia alastrou-se de novo sobre o seu trono, abanando-se, com majestade.
E subitamente houve uma surpresa: em quanto eles tiravam os bilhetes, os cavalos tinham partido, passavam juntos diante da tribuna. Todos se ergueram, de binóculos na mão. O starter ainda estava na pista, com a bandeira vermelha inclinada ao chão: e as ancas de cavalos fugiam na curva, lustrosos à luz, sob as jaquetas enfunadas dos jockeys.
Então todo o rumor de vozes caiu; e no silêncio a bela tarde pareceu alargar-se em redor, mais suave e mais calma. Através do ar sem poeira, sem a vibração dos raios fortes, tudo tomava uma nitidez delicada: defronte da tribuna, na colina, a relva era de um louro quente: no grupo de carruagens cintilava por vezes o vidro de uma lanterna, o metal de um arreio, ou de pé, sobre uma almofada, destacava em escuro alguma figura de chapéu alto; e pela pista verde, os cavalos corriam, mais pequenos, finamente recortados na luz.
Ao fundo, a cal das casas cobria-se de uma leve aguada cor-de-rosa: e o distante horizonte resplandecia, com dourados de sol, brilhos de pó vidrado, fundindo-se numa névoa luminosa, onde as colinas, nos seus tons azulados, tinham quase transparência, como feitas de uma substancia preciosa...
- É Rabino! exclamou por traz de Carlos, um sujeito, de pé num degrau.
As cores encarnadas e brancas do Darque corriam com efeito na frente. Os dois outros cavalos iam juntos; e, o último, num galope que adormecia, era Vladimiro, outro potro do Darque, baio-claro, quase louro à luz.
Então, a secretaria da Rússia bateu as palmas, interpelou Carlos, que justamente tirara na poule o número de Vladimiro.