O baptizado teve de ser retardado; Maria adoecera com uma angina. Foi muito benigna porém; e daí a duas semanas Pedro podia já sair para uma caçada na sua quinta da Tojeira, adiante de Almada. Devia demorar-se dois dias. A partida arranjara-se unicamente para obsequiar um italiano, chegado por então a Lisboa, distinto rapaz que lhe fora apresentado pelo secretario da Legação Inglesa, e com quem Pedro simpatizara vivamente; dizia-se sobrinho dos Príncipes de Soria; e vinha fugido de Nápoles, onde conspirara contra os Bourbons, e fora condenado à morte. O Alencar e D. João Coutinho iam também à caçada - e a partida foi de madrugada.
Nessa tarde, Maria jantava só no seu quarto, quando sentiu carruagens parando à porta, um grande rumor encher a escada; quase imediatamente Pedro aparecia-lhe trémulo e enfiado:
- Uma grande desgraça, Maria!
- Jesus!
- Feri o rapaz, feri o napolitano!...
- Como?
Um desastre estúpido!... Ao saltar um barranco, a espingarda dispara-se-lhe, e a carga, zás, vai cravar-se no napolitano! Não era possível fazer curativos na Tojeira, e voltaram logo a Lisboa. Ele naturalmente não consentira que o homem que tinha ferido recolhesse ao hotel: trouxera-o para Arroios, para o quarto verde por cima, mandara chamar o médico, duas enfermeiras para o velar, e ele mesmo lá ia passar a noite...
- E ele?
- Um herói!... Sorri, diz que não é nada, mas eu vejo-o pálido como um morto. Um rapaz adorável! Isto só a mim, Senhor! E então o Alencar que ia mesmo ao pé dele... Podia antes ter ferido o Alencar, um rapaz íntimo, de confiança! até a gente se ria. Mas não, zás, logo o outro, o de cerimonia...
Uma sege, nesse instante, entrava o pátio.
- É o médico!
E Pedro abalou.
Voltou daí a pouco mais tranquilo. O Dr. Guedes quase rira daquela bagatela, uma chumbada no braço, e alguns grãos perdidos nas costas.