- Onde é? Diz, onde é? exclamava Rosa, com os lindos olhos resplandecentes, e a facezinha cheia de riso.
- Daqui muito longe... Vai-se numa carruagem... Vêem-se passar os barcos no rio... E entra-se por um grande portão onde há um cão de fila.
Maria Eduarda apareceu, com Niniche ao colo.
- Mamã, mamã! gritou Rosa correndo para ela, dependurando-se-lhe do vestido. Diz que vou ter duas cabrinhas, e um balouço... É verdade? Diz, deixa ver, onde é? Diz... E vamos já para lá?
Maria e Carlos apertaram a mão, com um longo olhar, sem uma palavra. E logo junto da mesa, com Rosa encostada aos seus joelhos, Carlos contou a sua ida aos Olivais... O dono da casa estava pronto a alugar, já, numa semana... E assim se achava ela de repente com uma vivenda pitoresca, mobilada num belo estilo, deliciosamente saudável...
Maria Eduarda parecia surpreendida, quase desconfiada.
- há de ser necessário levar roupas de cama, roupas de mesa...
- Mas há tudo! exclamou Carlos alegremente, há quase tudo! É tal qual como num conto de fadas... As luzes estão acesas, as jarras estão cheias de flores... É só tomar uma carruagem e chegar.
- Somente, é necessário saber o que esse paraíso me vai custar...
Carlos fez-se vermelho. Não previra que se falasse em dinheiro - e que ela quereria decerto pagar a casa que habitasse... Então preferiu confessar-lhe tudo. Disse-lhe como o Craft, havia quase um ano, andava desejando desfazer-se das suas colecções, e alugar a quinta: o avô e ele tinham repetidamente pensado em adquirir grande parte dos moveis e das faianças, para acabar de mobilar o Ramalhete, e ornamentar mais Santa Olávia; e ele enfim decidira-se a fazer essa compra desde que entrevira a felicidade de lhe poder oferecer, por alguns meses de verão, uma residência graciosa, e tão confortável...